Murmurações do povo contra Deus e Moisés - UMA COMPILAÇÃO (parte 2)

CAPÍTULO 12 - Murmurações e castigo de Maria

Quando eu disse para vocês aguardarem murmurações para o próximo capítulo, eu não estava brincando: no capítulo 11 Deus matou legal por conta das reclamações por variedade alimentar, e no 12 já tem mais mimimi.

Acontece que Moisés se casou com uma mulher etíope, e assim nasceu nossa atividade preferida até os dias de hoje: a fofoca. Pelo menos nessa passagem quem tá de mimimi não são os judeus como um todo, mas apenas Maria (que às vezes se chama Miriam ou Miriã, vai entender) e Araão. O agravante é que os dois são IRMÃOS de Moisés, e também profetas. Miriã foi a tal da mulher que colocou little moses em um cesto de vime e o jogou rio abaixo, para o salvar da condição de escravo - infelizmente para nós, ela não o salvou por meios de pescoço quebrado. Aarão é o sumo sacerdote e o grande responsável pelo templo, ou seja, aquele que deveria confiar em Deus mais do que qualquer um. Ele também é porta-voz de Moisés ao longo de toda a jornada, desde os tempos do Egito, já que Moisés era meiqui ~gago e Deus não tava afim de curar essa condição médica intrincadíssima.

Mas os dois não se limitam a futricar sobre a vida sexual de Moisés, como qualquer dona de casa. Eles precisam também cutucar o todo-poderoso: "'Será que o Senhor tem falado apenas por meio de Moisés?', perguntaram. 'Também não tem ele falado por meio de nós?". Deus ouve a conversa dos irmãos, chama os três na chincha pro tabernáculo e dá um esporro lindo que consiste basicamente em: Moisés é foda, na cama ele esculacha, com as pedras que vocês jogam ele construirá o seu castelo. Dai como só falar com eles e colocá-los no cantinho da obediência não é o suficiente para alguém tão equilibrado e perfeito quanto o Senhor Nosso Deus Criador do Céu e da Terra, ele vai e faz brotar uma lepra branca na cara de Miriã, que fica isolada do lado de fora do acampamento por sete dias até se purificar.

Miriã

Araão, no entanto, nada sofre.

Porventura falou o SENHOR somente por Moisés? Não falou também por nós
Números 12:2

Porventura falou o SENHOR somente por Moisés? Não falou também por nós?
Números 12:2

Porventura falou o SENHOR somente por Moisés? Não falou também por nós?
Números 12:2

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O que aprendemos com essa história, amiguinhos? R: Pense duas vezes antes de acessar o Ego.

 

XOXO

CAPÍTULO 13 - Os exploradores de Canaã & CAPÍTULO 14 - A revolta

Nos primeiros livros da bíblia, Deus passa a maior parte do tempo (  ) cuidando dos fracos e oprimidos (   ) combatendo o demônio (   ) criando o universo (X) prometendo mundos e fundos a todos os personagens que cruzam o caminho dele. O altíssimo promete a Abrãao que multiplicará sua posteridade e a partir dele criará uma grande nação, incontável como as estrelas do céu e a areia do mar. Abrãao tem dois filhos, Ismael e Isaac. Deus promete a Agar, a escrava de Sara que se torna mãe de Ismael, filho bastardo de Abraão, que multiplicará sua posteridade como as estrelas do céu e a areia do mar. Voltarei na história de Abrãao, Sara e Agar quando eu fizer um resumo do Gênesis - pois é, eu ainda vou fazer um resumo do Gênesis. Decidi que comentarei o que se passou nos livros anteriores para situar melhor a narrativa, mas isso é para depois.

Bom, Isaac, filho legítimo de Abrãao, teve dois filhos com Rebeca: Isau e Jacó. E o que Deus promete para Isaac? You guessed it, aquele negócio lá de multiplicar a posteridade como as estrelas e a areia. Dai para Jacó, filho de Isaac, Deus faz a mesmíssima promessa, o que eu acho, além de repetitivo, meio estranho, visto que Jacó é a posteridade de Isaac e de Abraão, portanto já seria contemplado desde a primeira promessa, não?

Que tal prometer um playstation?

Bom, uma das promessas de Deus é a tal da TERRA PROMETIDA, que ele promete pela primeira vez a Abrãao, e depois a Isaac e a Jacó. Ou seja: ele promete essa encrenca a três gerações da mesma família. Acontece todo um enredo que leva os judeus para o Egito por conta de José, um dos filhos de Jacó, no final do Gênesis. Os judeus ficam APENAS 400 (QUATROCENTOS) ANOS no Egito, e a escravidão e libertação do povo é a história retratada em Êxodos. Ou seja: levando em consideração que Abraão morreu aos 175 anos, Isaac aos 180 e Jacó aos 147, mais os 40 anos andando pelo deserto, temos 902 anos. Abraaão tinha 75 anos quando Deus apareceu para ele pela primeira vez, ou seja: 902 - 75 = 827 anos até Deus começar a cumprir sua promessa, e começar bem mal, pois a tal da terra prometida acaba sendo CANAÃ, onde corre leite e mel, e onde JÁ TEM UM MONTE DE GENTE.

Se tem algo que aprendi com a bíblia até agora é: estabeleça prazos

Isso significa que Deus é o primeiro grileiro de que se tem registro na história, e que aquele pedaço de terra lá tem sido disputada há muitos e muitos e muitos anos. Só pra situar a galera, vamos de wikipedia (go wiki!):

Canaã é a antiga denominação da região correspondente à área do atual Estado de Israel (inclusive as Colinas de Golã), da Faixa de Gaza, da Cisjordânia, de parte da Jordânia (uma faixa na margem oriental do Rio Jordão), do Líbano e de parte da Síria (uma faixa junto ao Mar Mediterrâneo, na parte sul do litoral da Síria) (Números 34:1-15 e Deuteronômio 3:8). Comparada aos desertos circundantes, a terra de Canaã era uma terra de fartura, onde havia uvas e outras frutas, azeitonas e mel, daí ter sido vista por Abraão - originário da região do atual Iraque - como a "terra prometida", "onde corre leite e mel".

Chegando lá pras bandas de Canaã, Deus pede pra Moisés enviar príncipes de todas as tribos para explorar as terras e verificar o tipo de solo, frutos, se o povo é fraco ou forte, etc, porque é claro que Deus tá ocupado demais para contar isso para eles numa conversa de 5 minutos.

Os meninos voltam e contam para a assembléia que nem vai dar pra ir pra Canaã que lá tem gente pacas, o que faz a assembleia toda gritar e chorar a noite toda, e murmurar: 

“Oxalá tivéssemos morrido no Egito ou neste deserto! Por que nos conduziu o Senhor a esta terra para morrermos pela espada? Nossas mulheres e nossos filhos serão a presa do inimigo. Não seria melhor que voltássemos para o Egito?” E diziam uns para os outros: “Escolhamos um chefe e voltemos para o Egito” (Nm 14, 2-4)

Moisés e Araão CAEM COM O ROSTO POR TERRA (eles sempre se jogam nessas situações, adoram deitar na br), um dos manos exploradores tenta acalmar a galera e é quase apedrejado, mas é salvo por Deus que desce do céu como uma deusa e diz para Moisés: "Até quando me desprezará esse povo? Até quando não acreditará em mim, apesar de todos os prodígios que fiz no meio dele? Vou destruí-lo, ferindo-o de peste, mas farei de ti uma nação maior e mais poderosa do que ele". (Nm 14, 11-12)

É ai que Moisés faz uma das minhas coisas preferidas ao longo da bíblia: ganha o Senhor na lábia apelando para o orgulho e a vaidade divina, e nem é a primeira vez. Moisés é muito do esperto. E depois tem nego que diz que Deus é perfeito e acima das emoções humanas: mentira, tão vaidoso quanto uma Afrodite ou um Zeus qualquer. Tão humano e cheio de si quanto qualquer entidade de candomblé. Ou vai discordar? O papo que Moisés lança é um pouco longo mas vale ser lido na íntegra, pq é um show de retórica:

“Os egípcios viram que, por vosso poder, tirastes este povo do meio deles e o disseram aos habitantes dessa terra. Todo mundo sabe, ó Senhor, que estais no meio desse povo, e sois visto face a face, ó Senhor, que vossa nuvem está sobre eles e marchais diante deles de dia numa coluna de nuvem, e de noite numa coluna de fogo. Se fizerdes morrer todo esse povo, as nações que ouviram falar de vós dirão: o Senhor foi incapaz de introduzir o povo na terra que lhe havia jurado dar, e exterminou-o no deserto. Agora, pois, rogo-vos que o poder do Senhor se manifeste em toda a sua grandeza, como o dissestes: O Senhor é lento para a cólera e rico em bondade; ele perdoa a iniqüidade e o pecado, mas não tem por inocente o culpado, e castiga a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e a quarta geração. Perdoai o pecado desse povo segundo a vossa grande misericórdia, como já o tendes feito desde o Egito até aqui.” (Nm 13, 13-19)

Percebam que Moisés primeiro apela para o ego do Senhor, dizendo que as nações do mundo comentarão que ele não tá com nada, já que prometeu e não cumpriu e só trouxe sofrimento para o povo que escolheu. Que Deus é falho, portanto, e que o que diz não é sempre verdade já que prometeu algo para os judeus e, ao invés de cumprir, os matou no deserto. Moisés joga com a credibilidade divina. O processo aqui é o mesmo que te impede de usar crocs na rua, por mais confortáveis que eles sejam, pois você tem uma reputação a zelar.

Não ficariam bem nem em Deus, e quando eu digo Deus eu digo o David Bowie

Em sua fala, Moisés também se coloca numa posição de humildade, vangloriando o Senhor tanto, mas tanto, que envergonharia até mesmo o maior puxa-saco da sua empresa. Como Deus tem a auto-estima baixa, ele engole tudo o que Moisés diz e não mata ninguém naquela hora, mas amaldiçoa todos aqueles que murmuraram contra ele (ou seja: todo mundo) a nunca ver a terra prometida e a peregrinar pelo deserto por 40 anos, pois os exploradores passaram 40 dias em Canaã, e esse será o número de anos que os israelitas levarão para purgar sua culpa caminhando pelo deserto. O povo judeu morrerá no deserto, nessa peregrinação infinita, e os cadáveres deles apodrecerão ali, pois foram infiéis para com o senhor, portanto não merecem recompensa. Apenas seus filhos, a segunda geração, poderá entrar na terra prometida a Abraão, Isaac e Jacó. Mas como os judeus são cabeça-dura, eles decidem ir pra lá MESMO ASSIM, e claro que os gênios que abandonaram o acampamento pra fazer merda morrem pela espada dos povos que habitam as terras.

E a moral da história é: se você nasceu judeu e monoteísta no meio do deserto, meu amigo, é melhor fechar o bico e não murmurar contra o Senhor. Tá no inferno, abraça o capeta.